Os últimos dois anos tem sido muito intensos no ecossistema de Construtechs, as startups que resolvem problemas da cadeia da construção e imobiliário. Desde que começamos o Construtech Ventures é gritante a força que o movimento de inovação ganhou no setor.
O ano começou com o anúncio do aporte de U$ 865MM feito pelo Softbank na Katerra, empresa de maior destaque no universo de construção modular, uma das grandes tendências para o setor.
O mesmo fundo anunciou em setembro um aporte de U$ 400MM na startup OpenDoor, maior referência na área de Buy-To-Sell nos EUA.
A atividade de M&A também vem se mantendo aquecida. Em dezembro do ano passado, a Oracle anunciou a aquisição da Aconex por U$ 1.2bi. No meio desse ano Autodesk fez um movimento agressivo ao adquirir a empresa Assemble Systems em uma transação de valor oficialmente não divulgado, mas que estimamos algo em torno de U$ 100MM.
Agora, a notícia do momento é a aquisição da startup Plangrid pela Autodesk em uma transação de U$ 875MM.
PlanGrid e sua trajetória de sucesso
A empresa foi fundada em 2011 em San Francisco, o centro do Vale do Silício. Entre seus fundadores estavam dois engenheiros Tracy e Ryan. Os dois não se conformavam com os inúmeros problemas de comunicação e retrabalho gerado pelas informações dos projetos circularem apenas em papel entre os envolvidos na execução da obra.
Criaram então, uma plataforma para centralizar todos dados dos projetos na nuvem e permitir com isso a comunicação em tempo real entre os stakeholders.


Em 2012, entraram para a Y-Combinator, aceleradora mais famosa do mundo onde começaram uma jornada de crescimento exponencial.
Dois anos depois de fundada a empresa já possuía mais de 10 milhões de projetos na plataforma, usuários em quatro continentes pelo mundo, e recebia U$ 18MM de investimento de um dos fundos mais conceituados do mundo, Sequoia Capital.
A solução da startup americana permite construtores, empreiteiros, arquitetos e todos envolvidos em um projeto de construção, melhorar sua comunicação e produtividade ao integrar no ambiente digital todas informações do projeto, substituindo as tradicionais plantas impressas pela obra.
O conceito central da plataforma envolve colaboração em tempo real, por meio da digitalização dos projetos disponíveis na nuvem e acessados por dispositivos mobile, explorando uma das dez tendências destacadas pelo estudo Future of Construction.

Parece um problema de grande relevância?
Sempre que avaliamos uma startup, a primeira coisa que buscamos observar é o quanto o problema que o empreendedor está atacando é de fato relevante na perspectiva do cliente.
Buscamos sempre encontrar o famoso MUST HAVE, aquelas soluções que trazem ao cliente uma ferramenta capaz de impactar significativamente seu negócio, ao resolver um problema de alto impacto e com alternativas fracas de solução.
Contudo, quando se olha para a essência do produto da Plangrid, parece ser apenas uma digitalização da planta de projeto, ajudando sem dúvida a melhorar a comunicação, mas raramente sendo a prioridade do gestor de qualquer empresa, o tipo de solução NICE TO HAVE
Então por que tiveram tamanho sucesso?
Ainda que você não encontre o MUST HAVE, pode haver um caminho, você precisa entender real proposta de valor e a qual nicho ela tem maior relevância e com isso escolher a melhor estratégia e modelo de negócio. Esse foi sem dúvida o grande mérito e competência que destaco nos fundadores da Plangrid
Ao trabalhar com uma solução vista como nice to haveé natural que você tenha uma baixa taxa de adesão diante de uma amostra de clientes, ainda mais em um setor conservador como é a construção civil. Contudo, se você ataca um mercado grande o suficiente, mesmo uma pequena fração de usuários pode sustentar uma curva de crescimento bastante acentuada, e foi o que aconteceu com essa construtech.
Desde o início a empresa adotou uma estratégia de ser uma solução global. Qualquer pessoa, de qualquer país, poderia fazer o download do aplicativo e escolher um dos seus pacotes de funcionalidades. Com o tempo foram estruturando canais de vendas e parcerias para explorar mercados estratégicos e aumentar sua expansão.
Em um país como o Brasil, por suas dimensões geográficas e populacionais, vemos muitas startups que pecam em não perceber que construir uma solução global pode aumentar significativa as chances de ter um mercado grande o suficiente para explorar.
Faça uma conta simples, se o Brasil possui 1 milhão de engenheiros e 1% deles aderem a sua plataforma, você conquista 10 mil usuários. Agora imagine se desde o início você busque ter um produto global? Ao invés de 1 milhão de engenheiros, você passa a ter acesso a 100 milhões de engenheiros, se tiver a mesma taxa de adesão, você terá 1 milhão de usuários. No mundo de startups é importante entender que Go Big or Go Home!
U$875MM é muito dinheiro, será que vale tudo isso?
Após sete anos de sua fundação a empresa possui 400 colaboradores, 12 mil clientes pagantes, 120 mil usuários e sua plataforma hospeda algo em torno de 50 milhões de projetos em 90 países. Apesar de não ter o número oficialmente divulgado, estima-se que o ARR da empresa está em um patamar de U$ 20MM.
O valor da transação surpreendeu a muitos, U$ 875MM representa um múltiplo de 43x a receita estimada da companhia. A título de comparação, a Oracle na transação com a Aconex pagou um múltiplo de 9.7x a receita da compania.
Mas o que fez a Autodesk avançar em uma transação desse nível?
A resposta é a mais óbvia possível, BASE DE DADOS e USUÁRIOS na nuvem.
A gigante americana vem investindo pesado na transição de seus produtos para a nuvem, um mercado que deve alcançar um patamar de U$ 10 bilhões no setor de construção até 2020. Ao adquirir a Plangrid a empresa passa a ter acesso a mais de 50 milhões de projetos e 120 mil usuários acelerando sua visão de plataforma.
Essa aquisição permite a Autodesk aumentar sua presença no canteiro de obra e estender sua atuação, indo da elaboração do projeto até a execução física. Fluxos de trabalhos entre o Autodesk Revit, BIM 360 e Plangrid serão desenvolvidos para aumentar a integração entre as plataformas.
Também sabemos que a empresa vem apostando forte no desenvolvimento de inteligência artificial para elaboração de projetos. Generative Design e Parametric Design são duas vertentes que irão impactar o mercado AEC nos próximos anos. Para isso, quanto maior a base de dados, melhor as condições de aprimorar algoritmos e avançar com análise preditiva e prescritiva.
Lições que o case da Plangrid pode ensinar a todos empreendedores
A história dessa construtech trás a todos empreendedores uma série de ensinamentos. Destacamos aqui alguns desses:
- Pense global: O problema que você está atacando está presente em todo o mundo? Se sim, então construa desde o início um produto que possa ser global.
- Esteja na direção das tendências: Ao apostar em mobile + colaboração + cloud a Plangrid focou em pilares que nos últimos anos vem se fortalecendo na cadeia da construção.
- Foque seu produto naquilo que seu cliente consegue absorver: Não busque ter um produto muito a frente do seu tempo. Esteja alinhado com as tendências, mas foque em evoluir seu produto na velocidade com que seu mercado consegue aborver.
- Não fique preso no estigma do setor conservador: Muitos empreendedores perdem tempo lamentando que o cliente não vê valor em sua inovação. Não desperdice tempo com cliente que não compra. Foque em levar seu produto a um mercado grande o suficiente de forma que se apenas 1% deles adotarem já sustenta um forte crescimento de seu negócio, e entendam qual nicho vê maior valor em sua solução.
- Tenha visão: Quantas vezes já viu um empreendedor dizendo que está criando um aplicativo que vai digitalizar algo? Não limite sua visão ao que seu produto faz hoje. Entenda todo potencial que seu negócio pode ter e estabeleça uma visão desafiadora.
- Foque em gerar engajamento no seu usuário: Boa parte do valor pago pela Autodesk é fruto da determinação que a Plangrid sempre teve em conseguir que seus usuários tivessem sucesso no uso da plataforma, se mantendo fortemente engajados. Isso fez com que a base de usuários aumentasse, ampliando a cada dia o volume de dados armazenados.
- Execução é o que importa: A empresa não foi a primeira a criar uma plataforma para projetos na nuvem, mas foram os mais competentes em executar a visão e expandir seu negócio globalmente.
Conclusão
Não é fácil construir uma construtech de sucesso, ver casos como a Plangrid motiva muitos empreendedores a continuarem sua jornada, chama atenção de mais investidores para apostar em startups que inovam no segmento, além de ajudar no processo de transformação digital do setor construtivo. Quem será o próximo grande exit do setor?
No Construtech Ventures acreditamos que a tecnologia e o empreendedorismo serão capazes de mudar a cadeia da construção e setor imobiliário, por isso buscamos empreendedores com visão e capacidade de execução.
Está buscando investir ou empreender no setor, será um prazer ajuda-lo.